quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

TOSCOS, IGNORANTES



Não vou comentar, nem mesmo elaborar textos para estes mercenárias e produto do intestino grosso.

fica aqui minha indignação, tristeza.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Carnaval: S.J. Mipibu


" Na terra de cegos quem tem um olho é Rei"



Ei, sem sacanagem, mas olho só que programação carnavalesca ACIMA.

"Deus, perdoa; eles não sabem o que fazem"
Será que merece perdão?
Será que não sabem o que fazem?

CARNAVAL: S. J. MIPIBU




domingo, 15 de fevereiro de 2015

ARTE: SERVIÇO

Dez curiosidades sobre a vagina podem mudar a sua vida
Thais Carvalho Diniz
Do UOL, em São Paulo
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Se você que está lendo esta reportagem é uma mulher, provavelmente, se identificará com pelo menos alguns dos itens listados abaixo. Se é homem, o texto pode ajudá-lo a entender melhor a sua parceira. O assunto? A vagina. 
Para começar, é preciso diferenciar vagina de vulva. A vulva compreende toda a genitália feminina, incluindo a vagina, que é apenas o canal interno da vulva. Mas até os médicos se referem ao conjunto como vagina. 
O inglês Jamie McCartney criou, em 2011, o "Great Wall of Vagina" (grande mural da vagina, em tradução livre), que traz 400 órgãos esculpidos de gesso, formando um conjunto de dez painéis, justamente para mostrar que, assim como o pênis, cada vagina tem formato, tamanho (pelo menos externo) e aparência diferentes. 
"Muitas mulheres se preocupam com o aspecto do seu órgão genital e o comparam. Pensei que quando elas vissem todas aquelas vaginas no mural se sentiriam mais seguras. É a arte com um propósito social, além de ser um espetáculo surpreendente, claro", afirma o artista. 
Jamie, que disse conhecer apenas cerca de dez das 400 que serviram como voluntárias para o projeto, contou que teve como objetivo "libertar as mulheres da ansiedade e dúvida sobre a estranheza de seu corpo". E deu resultado: "Várias me mandaram e-mails falando que meu trabalho mudou suas vidas, que a autoestima aumentou. Isso é incrível".
A seguir, dez curiosidades. 
1. Tamanho: a vagina é elástica e, segundo Flávia Fairbanks, membro da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo), o tamanho muda de acordo com a idade. "Na fase adulta, tem de 7 cm a 8 cm de comprimento, em repouso. Durante a relação sexual, essa medida pode chegar a 12 cm de comprimento e 3 cm de largura", afirma. Flávia explica que a cavidade vaginal atinge o máximo de dilatação durante o trabalho de parto: 10 cm.

2. A vagina "fala": marcas ou manchas na calcinha, mau cheiro e coceira podem ser sinais de alguma doença. O corrimento, porém, nem sempre é um problema: quando é inodoro, trata-se de um mecanismo natural de defesa da mulher. "Quanto ao sexo, dor durante a penetração ou dificuldade de lubrificação podem denunciar uma disfunção sexual que precisa de tratamento", explica a terapeuta sexual Paula Napolitano.

3. Ruídos: você já se constrangeu durante o sexo por causa de algum barulho na hora da penetração (parecido com gases)? "É normal. Com o movimento sexual, pode haver a entrada de ar na vagina", afirma Carolina Ambrogini, ginecologista, sexóloga e coordenadora do Projeto Afrodite da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

4. Depilação não faz mal: de acordo com as ginecologistas Flávia Fairbanks e Carolina Ambrogini, os pelos servem como proteção contra atrito e entrada de corpos estranhos na vagina. Porém, não há mal nenhum em depilá-los. "Para as mais sensíveis, deixá-los é mais confortável, por conta do atrito, mas nada é proibido ou prejudicial", diz Carolina. 

5. Plásticas: algumas mulheres se incomodam com o tamanho dos lábios genitais e buscam na cirurgia plástica a saída para se sentirem mais confortáveis com seu corpo. Segundo Luiz Carlos Ishida, cirurgião plástico e membro da SBP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), a procura por esse tipo de intervenção aumentou. "Em 2010, realizávamos cerca de quatro operações dessas por ano. Hoje, não passamos uma semana sem fazer".

6. O poderoso clitóris: muitas mulheres chegam ao orgasmo apenas com o estímulo do clitóris, que está localizado na parte exterior da vulva. Segundo Paulo Tessarioli, psicólogo especialista em sexualidade humana, o órgão tem cerca de oito mil terminações nervosas e, por isso, é tão sensível. "Esse detalhe da anatomia feminina é muito curioso, já que a mulher tem um órgão destinado exclusivamente ao prazer", afirma.

7. Tamanho não é documento: se formos levar em consideração a possibilidade de prazer feminino, a afirmação de que o tamanho do pênis não importa procede. "Os cinco primeiros centímetros da vagina são os mais ricos em terminações nervosas e, por isso, dizer que o pênis maior dá mais prazer é um mito", explica a terapeuta sexual Paula Napolitano. Além disso, a vulva pode ser explorada por inteiro.

8. Transpiração e ventilação: muitas mulheres se incomodam com o suor vaginal, mas, de acordo com Flávia Fairbanks, por ter grande quantidade de glândulas sudoríparas, a transpiração é natural. "Algumas mulheres relatam que é a região do corpo onde mais suam", conta. Ela explica que, como é um órgão fechado e, por isso, quente e úmido, é favorável à proliferação de fungos e bactérias. "Por isso, quanto mais ventilado for, menores as chances de infecções. Dormir sem calcinha ou usar peças 100% algodão é altamente recomendado". 

9. "Autolimpeza": segundo a médica Flávia Fairbanks, o corrimento inodoro e esbranquiçado é o responsável por eliminar toxinas, bactérias e células mortas vaginais. Justamente por isso, não é preciso lavar o canal vaginal. "Usar água e sabonete com pH neutro na região externa já é suficiente para manter a higiene", diz.

10. Ginástica vaginal: o pompoarismo é um treinamento da musculatura vaginal que aumenta o prazer sexual do casal durante a penetração. Além disso, a vagina é composta por músculos e precisa ser exercitada, assim como o resto do corpo, segundo a terapeuta sexual Paula Napolitano. "Faz parte do bem-estar e do autoconhecimento feminino. Exercícios como os de contração e relaxamento ajudam a fortalecer a musculatura e deixam a vagina mais sensível. São muito indicados para problemas que podem surgir com a idade, como a flacidez genital e a incontinência urinária". 







quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

EDUCAÇÃO: precisamos falar e educar

Educação sexual: precisamos falar sobre Romeo...
...Iana, Roberta e Emilson. A escola trata com preconceito quem desafia as normas de papéis masculinos e femininos. A seguir, uma discussão sobre sexo, sexualidade e gênero
Wellington Soares (wellington.soares@fvc.org.br)

O pequeno Romeo Clarke, da foto acima, tem 5 anos e adora usar seus mais de 100 vestidos para as atividades do dia a dia. "Eles são fofos, bonitos e têm muito brilho", explicou ao tabloide britânico Daily Mirror. Clarke virou notícia em maio do ano passado. O projeto de contraturno que ele frequentava na cidade de Rugby, no Reino Unido, considerou as roupas impróprias. O menino ficou afastado até que decidisse - palavras da instituição - "se vestir de acordo com seu gênero".

O caso de Clarke não é único. Situações em que crianças e jovens que descumprem as regras socialmente aceitas sobre ser homem ou mulher - seja de forma intencional ou por não dominá-las - fazem parte da rotina escolar. Quando eclode o machismo, a homofobia ou o preconceito aos transgêneros, pais e professores agem rápido para pôr panos quentes e, sempre que possível, fazer de conta que nada ocorreu. "A escola, que deveria abraçar as diferenças, pode ser o ambiente mais opressivo que existe", defende Iana Mallmann, 18 anos, ativista contra a homofobia. "Muitos ainda abandonam as salas de aula por não se sentirem bem nesse espaço", completa Beto de Jesus, secretário para América Latina e Caribe da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, pessoas Trans e Intersex (Ilga, na sigla em inglês).

Paradoxalmente, quem tem ensinado a escola a agir no respeito à diversidade são os próprios estudantes. "Na contemporaneidade, multiplicaram-se os grupos, os sujeitos e os movimentos, as maneiras de se identificar com gêneros e de viver a sexualidade. Não há apenas uma forma de ser, mas tantas quantas são os seres humanos", afirma Guacira Lopes Louro, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e uma das principais referências na área de estudos de gênero. É o que mostram os corajosos depoimentos de 
IanaRoberta Emilson. Eles nos convidam a uma reflexão sobre nossas próprias ideias de masculino e feminino, hétero, homo ou bi, coisas de menino e coisas de menina. Precisamos falar sobre sexo, sexualidade e, sobretudo, gênero.

Três ideias, três conceitos 
Vale desfazer a confusão entre esses conceitos. O sexo é definido biologicamente. Nascemos machos ou fêmeas, de acordo com a informação genética levada pelo espermatozoide ao óvulo. Já a sexualidade está relacionada às pessoas por quem nos sentimos atraídos. E o gênero está ligado a características atribuidas socialmente a cada sexo.

O que se sabe hoje em dia é que o dualismo heterossexual/homossexual não é capaz de abarcar as formas de desejo humanas. Os estudos sobre o tema dizem que a orientação sexual se distribui num amplo espectro entre esses dois polos. É provável que a definição sexual se dê pela interação entre fatores biológicos (predisposição genética, níveis hormonais) e ambientais (experiências ao longo da vida). Mas não há certezas. O guia Sexual Orientation, Homossexuality and Bissexuality, da Associação Americana de Psicologia, resume: "Não foram feitas, por enquanto, descobertas conclusivas sobre a determinação da sexualidade por qualquer fator em particular. O tempo de emergência, reconhecimento e expressão da orientação sexual varia entre os indivíduos".

É surpreendente notar como determinados comportamentos são mais aceitos em uma fase da história e reprimidos na seguinte. Os moradores da Grécia Antiga, por exemplo, se relacionavam com pessoas de ambos os sexos. Já na Idade Média, comportamentos que se desviassem da norma socialmente definida eram punidos com a fogueira. Hoje, não há mais chamas, mas o sofrimento assume a forma de piadas, humilhações, agressões físicas e psicológicas, exclusão. Por que ainda agimos assim? Como se construiu uma sociedade que se choca e entra em pânico ao ver um menino se vestindo de menina?

A resposta está no conceito de gênero. Ele diz respeito ao que se atribui como características típicas dos sexos masculino e feminino. Meninas precisam sentar-se de pernas fechadas, meninos podem abri-las. Meninos não podem chorar, meninas são mais sensíveis. Meninos gostam de azul, meninas preferem o rosa. Enfim, uma série de aspectos que, com o tempo, ganham força e se convertem em regras. Por quê?

Porque cada um de nós interioriza as estruturas do universo social e transforma-as em jeitos de ver o mundo que orientam nossas condutas. Diversas instâncias atuam para que essas normas sejam transmitidas dos mais velhos aos mais jovens: a família, os grupos de amigos, as religiões - e, claro, as escolas. No caso do gênero, a associação com elementos preexistentes, como tradições culturais, preceitos religiosos e costumes familiares, vai definindo quais elementos pertencem ao universo masculino ou ao feminino. Por exemplo: ao provar do fruto proibido e convencer Adão a também comê-lo, Eva teria mostrado o lado irracional e sentimental da mulher. Por isso, sedimentou-se a ideia de que ela deveria estar submissa ao homem - naturalmente, um ser racional e cerebral, como explica a pesquisadora Clarisse Ismério no artigo Construções e Representações do Universo Feminino (1920-1945). Mais exemplos: a associação de carros e motos como "coisa de macho" foi herdada da ideia vigente até o início do século 20 de que o espaço público deveria ser ocupado pelos homens, enquanto as mulheres deveriam se dedicar à vida doméstica, como faziam suas mães. Já a atribuição das cores rosa e azul, respectivamente, a meninas e meninos... Bem, essa aí parece não ter justificativa. Nenhuma surpresa: a investigação sócio-histórica revela que na gênese de muitos hábitos, costumes e regras impera a mais pura arbitrariedade.

Tudo isso se complica em razão de outra característica da mentalidade moderna: a tendência de pensar por oposições. Segundo o filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004), a lógica ocidental opera por meio de binarismos: feio/belo, puro/impuro, espírito/corpo etc. "Um termo é sempre considerado superior, e o oposto seu subordinado", explica Guacira. Assim, o homem heterossexual conquistou o lugar de maior prestígio na sociedade. Um degrau abaixo, a mulher. E na penumbra, os que não se encaixam no esquema binário: gays, lésbicas, bissexuais, travestis...

Até meados do século 20, esse discurso circulou quase sem contestações. A partir dos anos 1950, movimentos feministas, guiados pelos estudos da filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), engrossados na década seguinte pelos hippies e outros levantes da contracultura, começaram a colocar em xeque os papéis atribuídos às mulheres na sociedade, no trabalho e na família. Seguiram-se a eles as lutas pelos direitos de homens gays, lésbicas, travestis, transexuais e assim por diante entre 1970 e os anos 2000. Atualmente, correntes contestatórias ampliam as possibilidades identitárias, defendendo que há muitos jeitos de ser homem e mulher.

Você deve estar se perguntando onde a escola entra nessa discussão. Para que ela respeite a diversidade, as formações de professores precisam abordar o assunto. É o melhor caminho para disseminar o que as pesquisas já descobriram sobre a construção dos gêneros e sua relação com o sexo e a sexualidade. Mas as iniciativas sofrem forte resistência. O caso mais notório aconteceu em 2011. Como parte do programa Brasil sem Homofobia, especialistas produziram para o governo federal cadernos com conteúdo pedagógico que colocavam o tema em discussão.

A intenção era que o material fosse distribuído a escolas de todo o país. Antes da impressão, entretanto, congressistas ligados a entidades religiosas se opuseram ao projeto. Apelidado de "kit gay", o conteúdo foi acusado de estimular "a promiscuidade e o homossexualismo" - termo em desuso por remeter a doença (hoje, fala-se em homossexualidade). A União cedeu às pressões e vetou a circulação dos cadernos. Oficialmente, não há perspectivas para que esse material saia do armário. Mas, agora, ele está disponível 
no site NOVA ESCOLA. Leia e tire suas conclusões.

Por enquanto, episódios como o do menino Romeo seguem envoltos pela vergonha. Mesmo em casos de crianças muito pequenas, em que não há relação entre o comportamento da criança e sua sexualidade (meninos mais sensíveis ou meninas que prefiram o futebol às bonecas), o expediente-padrão é convocar os pais para uma conversa sobre o suposto problema e encontrar maneiras de "corrigi-lo". "Muitas vezes, essas crianças e jovens apanham dos pais, são proibidos de voltar às aulas ou mesmo fogem", relata Constantina Xavier, professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). É papel da escola agir com profissionalismo. O que, nesse caso, significa tratar o tema com naturalidade e não reportá-lo aos pais. Um menino quer se vestir de princesa. Se há algum problema, é com os olhos de quem vê. Como ensina Georgina Clarke, a mãe do pequeno Romeo: "Não me importo. Faz parte de quem ele é. Se usar os vestidos faz com que ele seja feliz, então está tudo bem para mim".




HOMOFOBIA

 “Escola sem Homofobia” – chamado por intolerantes de “Kit Gay”
Leonardo Sakamoto
11/02/2015 07:47
Parte do programa “Brasil sem Homofobia'' – lançado com o objetivo de combater a violência contra gays, lésbicas, travestis, transexuais, entre outros grupos – mirava na formação de educadores para tratar das questões de gênero e da sexualidade em sala de aula.
Nesse contexto, material foi produzido para ser distribuído aos professores. Mas, em 2011, grupos conservadores e representantes do fundamentalismo religioso no Congresso Nacional fizeram uma chiadeira irracional e o governo federal, com medo da sua imagem e em nome da governabilidade, barrou sua impressão e distribuição.
Diziam que esse “Kit Gay'' iria estimular “o homossexualismo e a promiscuidade''. Como se fosse possível um material didático forçar uma orientação sexual ou uma identidade de gênero.
Como parte de uma excelente reportagem de Wellington Soares sobre questões de gênero que está chegando, nesta quarta (11), às bancas, a revista Nova Escola está disponibilizando para download a íntegra desse material didático contra a homofobia – ou “Kit Gay'', para os intolerantes.
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, envolvida na elaboração do material, repassou o caderno com instruções ao professor à Nova Escola por não acreditar que ele seria desengavetado pelo governo.
Segundo a revista, o kit também contava com boletins informativos (aos quais a reportagem não teve acesso) e vídeos que já estavam disponíveis na rede – e seguem republicados ao final deste post.
Há poucas coisas tão absurdas quanto fazer uma campanha contra um material didático produzido com o objetivo de combater o preconceito e a discriminação contra determinados grupos sociais e a estimular a tolerância e o entendimento de questões de identidade e de gênero.
O absurdo rivaliza, talvez, com a ação de parlamentares que colocam o fundamentalismo religioso acima da garantia da dignidade, com a falta de coragem do governo federal, que engavetou o material, e o comportamento de colegas jornalistas que ajudaram a batizar esse material didático de “Kit Gay'', reduzindo a complexidade da discussão e ajudando a reafirmar preconceitos em nome da audiência.
  Sugiro, portanto, que os professores analisem o material e, se for o caso, o utilizem em seus planos de aula.
Por fim, um comentário: diariamente, quando acordo, o calendário no celular me mostra que estamos na segunda década do século 21. Mas a realidade, ao longo do dia, me faz duvidar disso, transportando-me, muitas vezes, para os momentos mais sinistros da Santa Inquisição.
É inacreditável que ações que ajudariam a promover a dignidade de grupos historicamente atacados e vilipendiados, que deveriam também acontecer na pluralidade do âmbito escolar, sejam interditadas dessa forma.
Atos de homofobia são praticados diariamente, algumas vezes resultando em mortes. Muitas vezes a polícia, por mais que investigue, não encontra os executores. Mas os ideólogos dessas ações estão por aí, evitando que a tolerância seja entendida desde cedo pelas pessoas. Estão nas ruas, em templos, no Congresso Nacional, em Assembleias Legislativa, em salas do Poder Executivo ou mesmo do Judiciário, onde entrincheirados, defensores da discriminação, do preconceito e da intolerância, fazem sua guerrilha particular. Ao travar medidas que contribuiriam com a solução, ajudam na manutenção das condições que geram o problema. São parte dele.
Supostos representantes dos interesses de Deus na Terra que afirmam lutar pelo direito de reafirmarem suas crenças. Mas que droga de crença é essa que diz que A é pior que B, gerando ódio sobre o primeiro, só porque A é diferente?



sábado, 7 de fevereiro de 2015

AMOR NEGRO AMOR: ARTE.

Do racismo na arte contemporânea
POR SILAS MARTÍ
06/02/15  19:50 

No chão da galeria, riscados com giz, estão traços que lembram as rotas dos navios negreiros, da África para o Brasil. Nas paredes, estão frases de boletins de ocorrência destacando elementos suspeitos “negros e pardos”. Mas talvez o trabalho de Jaime Lauriano que mais chama a atenção nesta sua primeira individual é uma pequena muda de pau-brasil que cresce dentro de uma vitrine, sob luz e correntes de ar artificiais. Quando a árvore crescer, se sobreviver, vai destruir seu invólucro. Caso contrário, morrerá sufocada dentro dessa espécie de caixão transparente.
Lauriano sempre discutiu a violência em sua obra, no caso, uma violência que parece estar na formação do Brasil como nação, firme e profunda como as raízes da árvore que deram nome ao país. Pela primeira vez, no entanto, ele se assume como um autor negro, falando de questões de raça.
Ele abriu sua exposição na galeria Leme, em São Paulo, na semana em que o filme “Selma”, sobre a histórica marcha contra a segregação racial no sul dos Estados Unidos liderada por Martin Luther King em 1965, chega aos cinemas e a “Ilustrada” publicou uma reportagem sobre uma série de performances em que ativistas negros vão em massa a vernissages nas galerias da cidade em busca de visibilidade.
Num trabalho fora da mostra, que esteve em exposição no Centro Cultural São Paulo, no ano passado, Lauriano mostra rapazes cobrindo o rosto com a camisa da seleção brasileira ao som de uma lista de 22 dissidentes políticos assassinados durante o regime militar, em alusão aos anos de chumbo disfarçados pela alegria do futebol –no caso, a vitória do Brasil na Copa do Mundo de 1970, auge da repressão.
Lauriano e Moisés Patrício, um dos idealizadores da performance “Presença Negra”, estiveram na Folha para debater o assunto. Veja aqui a conversa com os dois.


Leia a seguir uma entrevista que fiz com Lauriano também nesta semana.

Qual é a situação dos negros no cenário da arte contemporânea do país?

Ser um artista negro é complicado porque não se toca nesse assunto. O artista negro que se destaca na arte brasileira não é visto como um artista negro. O discurso de miscigenação é tão disseminado, que é como se isso não fosse uma questão. Ser um artista negro já é um ato político, mesmo que seu trabalho não fale da questão racial. Ser um artista negro no Brasil já é uma puta batalha e poucos conseguem se destacar. Eu não vejo um preconceito racial ou racismo, porque se dissesse isso seria leviano, mas é um racismo mais velado. É não lidar com essa questão. É como se a cor dele fosse nenhuma. Isso não é trazido à tona. As pessoas esquecem de dizer isso, mas está havendo uma retomada agora. É o negro querendo tomar o protagonismo de sua história.

Você acredita que obras que tratam de questões raciais abriram um novo nicho de mercado?

Isso é um conflito e lugar de medo para mim. Existe o risco disso se tornar um fetiche pelos grafismos, pela iconografia, o que tira a potência de uma reelaboração da história. Está surgindo um nicho de mercado, e esse é o grande embate que eu tenho comigo mesmo. Quando o trabalho circula no mercado, isso pode ser muito ruim. Mas estamos num caminho muito bom. Antes havia um silêncio, então esse interesse vai nos fazer pensar sobre a nossa própria história. Isso é muito sintomático, tanto que a próxima Bienal do Mercosul vai ter um núcleo para se pensar o Brasil a partir da teoria pós-colonial. Isso é fundamental na nossa história e na nossa construção, mas que vinha sempre deixado de lado, esquecido, por tentar globalizar nossa forma de produção cultural. É um confronto dialético que vai trazer muitas coisas boas.

Por que esse interesse repentino do cenário artístico pela questão racial?

Acredito que isso deriva do momento político e social que estamos vivendo. Desde as insurgências e revoltas populares, vivemos um momento de descontentamento, e isso reflete muito sobre como se vive. Isso refletiu na arte e depois em como o mercado, os curadores e os críticos começaram a ver isso como recorrente nas obras dos artistas. Vejo isso como um trabalho contínuo, que vem surgindo há uns dez anos. A gente já tinha uma recorrência de assuntos sobre violência e sobre violência contra o corpo do negro, mas isso só tem se tornado mais forte. A arte vem a responder a necessidades históricas. A gente vive um momento latente de revoltas. A arte foi junto, e todo mundo sentiu a necessidade de falar sobre essas coisas. Esses trabalhos que lidam com violências corporais estão ressurgindo.

De que forma você vê esse assunto sendo tratado por artistas brancos?

Não acho algo ruim. Na verdade, é um tema que perpassa toda uma história da construção do Brasil. Mas acho ruim quando isso é usado como maneira de fetichizar e tornar exótico alguma coisa, e aí eu coloco não só os artistas, mas os curadores, historiadores e críticos. Há uma fetichização da violência contra o negro. E desse tipo de atitude podem surgir novos preconceitos em vez de uma nova discussão sobre o racismo. No trabalho do Afonso Tostes, por exemplo, eu vejo algo além da violência da escravidão. Ele fala muito mais da força do trabalho, o que é claro no caso do negro. É a violência física sobre o corpo de um trabalhador. Às vezes, as tentativas param no meio do caminho. O próprio Museu Afro Brasil não trabalha esse assunto. A mostra “Histórias Mestiças” também não trouxe tanta problematização. Não me incomodam artistas ou pensadores brancos falando da cultura negra, mas sim quando brancos ou negros fazem uso do ideário da violência contra o negro para criar fetiches e clichês.

Você se identifica como um artista negro?

Eu não entendia o que era ser negro, mas me assumi como negro e isso virou um tema muito grande na minha pesquisa e no meu trabalho. Hoje eu posso afirmar que me identifico como artista negro e isso tem um impacto na minha maneira de trabalhar, na minha visão do Brasil e da arte. Meus trabalhos pensam sobre a construção do Estado que passa pela inibição do corpo de um oprimido. É a formação do Brasil a partir da violência e da dominação do corpo de outra pessoa. Tem a escravidão, a ditadura e o genocídio das classes mais pobres. É um estudo sobre o corpo brasileiro, não um corpo individual, um corpo coletivo, dócil. Essas investigações giram em torno da dominação e da subjetivação do corpo.






VERDADE

De pau de arara a cadeira do dragão, Comissão da Verdade lista 20 métodos de tortura
Gustavo Maia
Do UOL, no Rio
10/12/201410h53
·         Bernardo Soares/JC Imagem
Prática "institucionalizada", "sistemática" e "massiva", a tortura foi adotada como política de Estado durante a ditadura militar, e seguia métodos padronizados, aponta o relatório da CNV (Comissão Nacional da Verdade), divulgado nesta quarta-feira (10). Com base em documentos e em depoimentos de vítimas e de agentes do regime colhidos ao longo dos últimos anos, a comissão listou 20 técnicas usadas por torturadores em interrogatórios, entre elas o pau de arara, o uso da chamada "cadeira do dragão", uma espécie de cadeira elétrica, e a "geladeira", uma tecnologia de tortura de origem britânica.
O documento produzido após dois anos e sete meses de trabalho da CNV foi entregue nesta manhã à presidente Dilma Rousseff, que integrava a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares) e foi vítima de tortura na década de 1970. Um dos 18 capítulos do primeiro volume do relatório, com mais de 60 páginas, é exclusivamente dedicado a documentar a aplicação da tortura e seus efeitos. Por meio de relatos detalhados, o documento revela todos os passos da tortura praticada nos anos de chumbo, tanto física quanto psicológica.
Além dos métodos elencados abaixo, são citadas técnicas como queimar com cigarros alguma região do corpo, arrancar com alicate pelos, dentes ou unhas, deixar o torturado com sede, amarrar fio de náilon entre os testículos e os dedos dos pés e obrigar a vítima a caminhar, e o espancamento.
O Brasil deve punir quem cometeu crimes na ditadura?
·         Sim
55,14%
·         Não
41,64%
·         Não sei
3,22%
34.337 votos
O texto relata o esforço da cúpula do regime para "evitar o conhecimento público das denúncias, refutá-las sumariamente, e impedir investigações". Também aborda a influência da Escola das Américas, no Panamá, criada pelo Departamento de Defesa do Governo dos Estados Unidos, e da assessoria do Reino Unido na adoção da tortura como política de Estado durante a ditadura militar. Outro ponto explorado pelo relatório é a participação de médicos e enfermeiros nos atos contra os presos políticos.
O relatório, no entanto, não apresenta um resultado próprio com relação ao número de pessoas torturadas durante o regime. A CNV afirma no documento que a investigação comprovou a mesma conclusão de levantamentos anteriores, como o do projeto "Brasil: nunca mais", segundo o qual 1.843 pessoas foram submetidas a tortura de 1964 a 1977, e do PNDH-3 (Terceiro Porgrama Nacional de Direitos Humanos), da Secretaria de Direitos humanos da Presidência da República, que estima em 20 mil brasileiros o número de torturados no período ditatorial.
A Comissão Nacional da Verdade também reuniu as principais sequelas oriundas das diversas modalidades de tortura: muitas das vítimas ficaram mutiladas, cegas, surdas, estéreis, com danos cerebrais ou paralisias, entre outras. Também foram listadas sequelas psíquicas, como paranoia e depressão, que levaram alguns torturados a cometer suicídio.
A reportagem do UOL entrou em contato com o Ministério da Defesa, que responde pelas Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), mas o órgão federal informou que não se pronunciaria sobre o conteúdo do relatório. Por meio de sua assessoria de comunicação, o órgão informou ainda ter colaborado com os trabalhos da comissão desde a sua criação. Já os representantes do Clube Militar não foram localizados.
Métodos de tortura listados pela Comissão da Verdade
·         Pau de arara
O preso fica suspenso por um travessão, de madeira ou metal, com os braços e pés atados. Nesta posicão, outros métodos de tortura são aplicados, como afogamento, palmatória, sevícias sexuais, choques elétricos, entre outros. A longa permanência no pau de arara pode gerar problemas circulatórios nas vítimas. É um dos métodos de tortura mais utilizados e conhecidos da ditadura
·         Choque elétrico
Aplica-se descargas elétricas em várias partes do corpo da vítima, preferencialmente em áreas como pênis ou vagina e ânus; testículos e ouvido; dedos e língua. Amarra-se um polo em uma das partes e coloca-se o segundo na outra. Diversos aparelhos são usados para aplicar os choques, que podem provocar convulsões. A aplicação intensa das descargas causou a morte de muitos presos políticos
·         Cadeira do dragão
Coloca-se o torturado, nu, preso em uma cadeira pesada, para que ele receba choques elétricos. Uma trava empurra suas pernas para trás e seus pulsos são amarrados aos braços do objeto. Constitui-se por uma poltrona de madeira, revestida com folha de zinco. Ao ser ligada à corrente elétrica, os choques atingem todo o corpo, principalmente nádegas e testículos, no caso dos homens
·         Palmatória
Consiste no uso de uma haste de madeira arredondada, com perfurações nas extremidades, de preferência na região da omoplata, na planta dos pés e palma das mãos, nádegas, etc. O método pode causar o rompimento de capilares sanguíneos, derrames e inchaço, impedindo a vítima de caminhar ou de segurar qualquer objeto
·         Afogamento
Derrama-se água --às vezes misturada a querosene ou amoníaco-- ou outro líquido pelo nariz da vítima, pendurada de cabeça para baixo. Outras formas consistem em vedar as narinas e introduzir uma mangueira na boca da pessoa; mergulhar a cabeça do preso em um tanque ou balde; ou amarrar uma corda sob os braços do torturado e lançá-lo em poços, rios ou lagoas. Esta prática é conhecida como "pescaria"
·         Telefone
Aplica-se uma pancada com as mãos em concha nos dois ouvidos ao mesmo tempo. Uma das vítimas contou que chegou a perder os sentidos após um "telefone". O método levou ao rompimento dos tímpanos de diversos presos políticos e, em alguns casos, à surdez permanente
·         Corredor polonês
O preso é agredido em meio a uma roda de torturadores, com socos, pontapés e golpes de caratê ou instrumentos como pedaços de pau, cassetetes, mangueiras de borracha, vergalho de boi e tiras de pneu. O método também é conhecido como "sessão de caratê"
·         Uso de produtos químicos
Trata-se da utilização de qualquer tipo de produto químico contra o torturado, seja para pressioná-lo a fornecer a informação desejada, por alteração da consciência, seja para provocar dor. Entre as possíveis aplicações, estão jogar ácido no corpo da vítima ou derramar álcool sobre feridas e em seguida ligar o ventilador
·         Soro da verdade
O "soro da verdade", nome dado ao "pentotal sódico", é injetado por via endovenosa, gota a gota, no torturado preso a uma cama ou maca. A droga tem um efeito progressivo: primeiro sedativo, depois de anestesia geral e, finalmente, de depressão gradativa dos centros bulbares. O seu uso pode provocar graves efeitos colaterais e até mesmo a morte, no caso de doses excessivas
·         Tempero com éter
Consiste em aplicar uma espécie de compressa embebida em éter em partes sensíveis do corpo, como boca, nariz, ouvidos, pênis etc., ou introduzir buchas de algodão ou pano, no ânus ou na vagina da vítima. Esta prática geralmente acontece quando o torturado está no pau de arara. A aplicação demorada e repetida provoca queimaduras nas áreas atingidas
·         Injeção de éter
Consiste na aplicação de injeções subcutâneas de éter, que provocam dores lancinantes. Normalmente, esse método ocasiona necrosamento dos tecidos atingidos
·         Sufocamento
O torturador obstrui a respiração da vítima, produzindo sensação de asfixia. Tapa-se a boca e o nariz do preso com materiais como pano ou algodão, para impedi-lo de gritar. O torturado sente tonturas e pode chegar a desmaiar
·         Enforcamento
O preso tem o pescoço apertado com uma corda ou tira de pano, sendo por vezes levado ao desmaio
·         Crucificação
Consiste em pendurar a vítima pelas mãos ou pés amarrados em ganchos presos no teto ou na escada, deixando-a pendurada. Enquanto isso, os torturadores aplicam choques elétricos ou usam a palmatória, entre outros métodos
·         Poço de petróleo
O torturado é obrigado a colocar a ponta de um dedo da mão no chão e correr em círculos, sem mexer o dedo, até a exaustão, enquanto recebe "pancadas, pontapés e todo o tipo de violência"
·         Latas abertas
Consiste em obrigar o torturado a se equilibrar com os pés descalços sobre as bordas cortantes de duas latas abertas, como as de leite condensado, por exemplo. Quando a vítima se desequilibra e cai, os espancamentos se intensificam
·         Geladeira
O preso é confinado, nu, em uma cela de 1,5m de altura, por horas ou dias, muitas vezes sem comida ou água. A porta interna é de metal e as paredes são forradas com placas isolantes. Um sistema de refrigeração alterna temperaturas baixas e altas. No teto, às vezes acendem-se luzes coloridas em ritmo rápido, enquanto um alto-falante emite sons de gritos e buzinas. O método é britânico
·         Uso de animais
Expõe-se o torturado aos mais variados tipos de animais, como cachorros, ratos, jacarés, cobras e baratas. Em alguns casos, alguns deles foram introduzidos em partes do corpo da vítima
·         Coroa de cristo
Coloca-se uma fita de aço em torno do crânio, com uma tarracha permitindo que ela seja apertada. A prática resultou na morte de Aurora Maria Nascimento Furtado, militante e guerrilheira da Ação Libertadora Nacional, em 1972
·         Churrasquinho
Consiste em atear fogo em partes do corpo do preso previamente embebidas em álcool