“Guerra” entre israelenses e palestinos? A palavra certa é “massacre”
Leonardo Sakamoto
11/07/2014 17:41
Mais de 100 palestinos teriam sido mortos e outros 700
feridos, pelo Exército israelense, na faixa de Gaza, por conta da
ação “Limite Protetor'', na atual escalada de violência – que começou após o
sequestro e morte de jovens israelenses e palestinos.
As Nações Unidas definiram a situação como “uma emergência humanitária
crescente''. A maior parte dos alvos têm sido civis, incluindo casas em áreas
povoadas. Ao mesmo tempo, o lançamento de foguetes de militantes do Hamas
feriram moradores de Israel, alguns em estado grave, mas sem registros de
mortos até o momento em que este texto foi postado.
Número de mortes não deveriam ser comparadas, pois a dor não é algo
mensurável. Mas isso serve para ranquear nossa ignorância e estupidez. Se esses
mais de 100 mortos ocorressem durante uma ação violenta da polícia carioca ou
paulista junto a favelas, mesmo as classes mais abastadas (muitas vezes
lenientes com a morte dos mais pobres) já teriam chamado a situação de chacina
ou massacre. Nesse caso, contudo, muitos de nós relutamos em falar em banho de
sangue.
Podemos chamar de guerra, batalha ou confronto quando um dos lados é tão
superior militarmente ao outro, fato que se traduz na contagem de corpos, como
no caso dos ataques israelenses? É normal considerar como “dano colateral” a
morte de civis em confronto? Por que não montamos um telão de LED gigante,
diante da sede das ONU, em Nova Iorque, mostrando – em tempo real – quantos
anos o Exército israelense está roubando do futuro dos palestinos, tornando
real a promessa de Eli Yishai, então ministro do Interior, de que o país
pretendia “mandar Gaza de volta à Idade Média''?
Concordo quando dizem que não há crise humanitária em Gaza, aquela
pequena faixa de terra entre Israel e o Egito ocupada por palestinos. Crise
humanitária existia antes do bloqueio decretado por Israel devido à eleição do
Hamas e ao lançamento de foguetes contra seu território anos atrás. Hoje, o que
há é algo próximo ao que ficou conhecido como campo de concentração.
Em 2010, uma pequena frota de barcos com ativistas tentava amenizar,
levando produtos de primeira necessidade, quando foi atacada pelas forças
armadas israelenses, resultando em, ao menos, dez mortos e mais de 30 feridos.
Ah, é claro, os barcos também levavam armas de destruição em massa, como
estilingues e bastões, com os quais os pobres soldados, armados de simples
metralhadoras, foram atacados ao abordá-los. As forças israelenses quase não
resistiram às terríveis rajadas de bolas de gude, mais letais que as terríveis
pedras lançadas manualmente por palestinos nos protestos em terra.
Presenciamos um massacre unilateral e não uma guerra – civis, inclusive
jovens e crianças, morreram desde o início da última operação miliar contra
Gaza. E tendo em vista sua intensidade e forma, o que estamos presenciando soa
como (mais uma etapa de) genocídio do que conflito. Guerra é inadequado,
terrorismo de Estado seria melhor. E isso não sou eu quem diz, mas há milhares
de israelenses que protestam contra a ação militar do seu próprio governo.
Se de um lado, estúpidos extremistas palestinos não aceitam a existência
de Israel, do outro estúpidos extremistas israelenses reivindicam Gaza e
Cisjordânia como parte de seu território histórico. Para estes, árabes em geral
são bem aceitos no seu território, desde que sirvam para mão de obra barata. A
diferença entre esses dois grupos é que Israel tem poder de fogo para levar
esse intento adiante, enquanto o outro lado não.
O certo é que o islamismo radical vai ficando mais forte do que antes. E
o Hamas não é o verdadeiro problema nessa equação, há outros grupos mais
radicais que não obedecem a sua autoridade. Mesmo que a maioria dos seus
líderes morram, surgirão outros, lembrando que as condições de vida em Gaza são
uma tragédia, com crianças revoltadas diante de tanta violência social e
física, prontas para serem cooptadas por grupos fundamentalistas.
Os dois lados devem parar, mas é estúpido dizer que há um conflito com
partes iguais e responsabilidades iguais. Israel acha que vai conseguir
controlar os ataques contra seu território com mais porrada? Aliás, será que o
governo de lá esquece que foi ele mesmo quem, historicamente, contribuiu com
essa situação?
Portanto, caso queira seguir essa política que adotou até agora, não é à
Idade Média que Israel terá que mandar Gaza para se sentir segura e sim
extirpar um povo do mapa.
O tempo passa, os papeis se invertem.
Quais as chances de jovens que vêem seus pais, irmãs, namoradas serem
mortos hoje não tentarem vingar suas mortes amanhã?
Nenhuma.
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