sexta-feira, 4 de julho de 2014

ESTÉTICA

Maquiagem não é uma arte. É o possível
Publicação: 22 de Junho de 2014
3porquatro - Por Anna Ruth Dantas 

Marcos Costa é apontado como um dos grandes referenciais da maquiagem no país. Mas já nos primeiros minutos de conversa é possível observar que maior do que a beleza produzida por ele a partir das maquiagens é o próprio belo desse profissional que se mostra uma pessoa muito simples e cativante

Edu Delfim


Marcos Costa valoriza a beleza para diferentes públicos, desde a mulher que domina o assunto até aquela que não tem tanta prática com os pincéis

Marcos Costa evita rótulos, define-se como um “prestador de serviço” e já emenda dizendo que “maquiagem não é arte, é o possível”.

Pelas mãos de Marcos já passaram grandes estrelas como Gisele Bundchen, Ana Hickman e diversos outros artistas. Mas a fama não encanta o maquiador, que se tornou o primeiro brasileiro a ministrar um curso de automaquiagem para cegos.

Quando fala sobre o assunto, a expressão de Marcos Costa ganha um novo brilho, reflexo desse trabalho importante, de valorização feito com os cegos.

“Só precisa ter amor”, diz Marcos Costa ao falar sobre o curso para as meninas cegas.

Autor de dois livros, o maquiador afirma que as obras são uma forma de oxigenar o cérebro.

E por falar em oxigenar, conversar com Marcos Costa é abrir também uma nova perspectiva, não apenas da maquiagem, mas também observar de como esse trabalho envolve diversas outras variáveis, como a própria personalidade da pessoa que vai se maquiar.

Quando questionado o que é fundamental para uma maquiagem, ele responde de pronto: “conhecer a pessoa”.
Marcos Costa é daquelas pessoas que cativam pela atenção e carisma transmitidos ao espectador.

O nosso convidado de hoje fala de maquiagem, mas, fundamentalmente, traz lições sobre gente, mostrando-se uma pessoa simples e de grande carisma.

Com vocês, Marcos Costa:

O que foi determinante para você se tornar esse referencial na maquiagem no Brasil?
Primeiro muito obrigada pelo elogio. Costumo falar que eu sou um prestador de serviço. Eu sou uma pessoa que trabalha com beleza de segunda a segunda, praticamente. Eu tirei férias este ano, no começo do ano, estava há dois anos sem tirar férias. Essa coisa do ícone, da celebridade, isso não existe para mim. Maquiagem para mim não é arte, maquiagem é possível. Eu brinco, ontem mesmo uma amiga me ligou, e disse que tinha uma pessoa com muita vontade de me conhecer, mas a pessoa tinha vergonha de falar comigo. E logo eu respondi: sou como outro qualquer, pego ônibus, metrô, vou no restaurante de quilo. Eu fico lisonjeado, mas eu sou muito pé no chão. Isso não existe (a celebridade). Eu sou uma pessoa muito normal, trabalho muito, não tenho preguiça para nada. Minha vida é família, amigos e trabalho. Nessa ordem.

Com essa simplicidade que você demonstra de pronto, há um choque com as pessoas que você maquia, que são mulheres muito famosas?
Eu não deixo essa coisa me impregnar, eu não sou celebridade. Sou um profissional de beleza.

Mas você se com o que você vê no seu trabalho, na pessoa que você maquia que, as vezes, guarda uma aura de celebridade?
Eu não dou importância. Acho que a gente tem que entender as pessoas um pouco também. Acho que essa coisa de ser simples, a melhor coisa que define a minha personalidade é que eu sou um cara que gosto de viver a vida. Eu amo o Rio Grande do Norte. As vezes pego o avião quietinho e venho para São Miguel do Gostoso. Eu falo muito de São Miguel do Gostoso para algumas pessoas, porque essas jóias (de lugares) você não pode falar para qualquer um.

Em que seu trabalho na maquiagem se diferencia dos demais apresentados?
Uma editora de beleza da Elle, uma vez, me deu um adjetivo que eu fiquei muito feliz. Ela disse que eu sou um profissional versátil. Eu fiquei muito feliz com esse elogio porque é pesado (o elogio). Ela disse que eu consigo fazer coisas modernas, mas eu vou lá e ministro curso de automaquiagem para cegos, sou primeiro maquiador que faz isso. Faço as minhas senhorinhas, minhas clientes, minhas amigas e pronto. Então eu fico muito feliz com e-mails que recebo de pessoas que querem se tornar profissionais ou de fotógrafos que querem trabalhar comigo. É muito bacana. É muito reconhecimento.

Você se tornou o primeiro maquiador brasileiro a ensinar automaquiagem para cegos. Complicado não?
Só precisa ter amor. Eu dou curso de maquiagem há anos. Aí uma pessoa descobriu que um dos diferenciais do meu trabalho é usar os dedos. E as meninas cegas têm muita dificuldade com o pincel e foi aí que comecei o curso para os cegos.

Você usou a expressão, no início dessa entrevista, que faz a maquiagem “possível”. 
As pessoas tem um negócio de falar que maquiagem é arte, é coisa de artista. Isso afasta muito a mulher do maquiador e da maquiagem. Você tem que falar para mulher que uma base que ela aplica, um negocinho que coloca no olho, já vai ficar em ordem. Não precisa achar que maquiagem é coisa de artista. Maquiagem é possível. Qualquer pessoa pode usar uma maquiagem, até mesmo morando em Natal que é um calor maravilhoso.


A maquiagem transforma?
Valoriza. A maquiagem do dia-dia, que você usa para ir a uma festa, para trabalhar, ela (a maquiagem) valoriza seus traços, sua personalidade, seu estado de espírito. Na verdade, maquiagem, para mim, é antes de tudo personalidade, estado de espírito e traços fisionômicos.

O que é essencial para você maquiar?
Te conhecer. Hoje em dia é muito fácil, a brasileira hoje em dia tem muito mais opinião, muito mais do que antes. Ela sabe o que quer. Nem sempre o que está na passarela e na novela das nove ela quer.

Qual a parte do rosto que é essencial maquiar, quer seja dia ou quer seja noite?
Essa pergunta é maravilhosa. Para mim, a preparação da pele é o mais importante da maquiagem, que é onde você usa base, corretivo e pó. Se você usa somente um, os dois ou os três. Se você está com a pele bem preparada já é meio caminho andado, você está com 60% da sua maquiagem pronta.

Existe segredo na maquiagem?
Existem vários. O primeiro é se conhecer, saber o que você quer, cuidado com modismos, cuidado com excessos, principalmente se você não tem tanta prática com a maquiagem e também quem tem prática com a maquiagem erra. A gente erra também. Tem vários segredos.

E quais são os erros cruciais na maquiagem?
Carregar muito na pele, usar o lápis muito marcado sozinho na pálpebra inferior, usar o contorno de boca muito saliente, usar coisas muito carregadas sem muito propósito.

Existe moda na maquiagem?
A  maquiagem é um dos complementos de moda. Eu não sigo moda na maquiagem. Enquanto o mundo está falando que é nude eu estou fazendo colorido. Enquanto o mundo fala que é preto, estou fazendo nude. A maquiagem é você usar aquilo que combina com você. Você até pode dar umas pitadas de moda na sua maquiagem, mas pensando que você vai tirar uma foto e daqui a dez anos você tem que olhar para essa foto e se sentir bem. Tem muita gente que tem vergonha da foto.

Há um mito no Brasil de que o produto importado impera na maquiagem?
Esse mito a gente já quebrou com natura Una. É a primeira linha brasileira primel. A gente está trazendo lançamentos incríveis. Nem tudo que é gringo é bom. A gente não usa substâncias cancerígenas, a gente não testa em animais, a gente não usa carmim. É uma empresa genuinamente brasileira. Aliás, tem vários nordestinos que trabalham nela. Algumas coisas a gente faz lá fora, a maioria faz no Brasil, usa a diversidade brasileira, usa ceramidas de maracujá nos batons, fazemos bases elogiadas por gringos.

Qual a mulher mais difícil para ser maquiada?
Para um maquiador nada pode ser difícil. Tem uma coisa que sempre falam: dizem essa mulher é linda, é fácil deixá-la bonita. Quando você faz uma maquiagem em uma mulher perfeita, o risco de você errar é maior. Tem mulheres lindas que ficam feias maquiadas.

Você aposta nos produtos de rejuvenescimento na pele?
A indústria cosmética é muito forte, muito poderosa. Aposto sim. Mas nada adianta se você não tiver uma alimentação equilibrada, se não tiver uma vida razoavelmente sem estresse, se não tomar muita água, se não se droga, se você não bebe, não fuma. Tratamento é muito importante, mas ele não é sozinho. Maquiagem depende do tratamento. Os produtos além de embelezar mantém a hidratação da pele. A maquiagem depende de um bom tratamento e um bom dermatologista. E um bom tratamento e um bom dermatologista depende do seu equilíbrio, da sua alimentação.

E a cor da maquiagem? Como escolher a cor?
As meninas que passaram dos 15 anos (as senhoras de 70 ou 80 anos) adquiriram o direito de fazer qualquer coisa. Quem disse que uma menina com mais de 70 anos não pode usar olho preto? É a personalidade, é o tipo físico.

O que você busca com seus livros (ele já lançou dois livros)?
Oxigenar meu cérebro. Terapia. E, principalmente, aproximar mais ainda a maquiagem das mulheres. O segundo livro foi dividido em três partes. Há minhas viagens, minhas criações para desfiles e ensaios.

Bate e volta:
Qual a cor que você não erra: rosa
A mulher mais difícil para maquiar: insegura
A mulher mais fácil para maquiar: segura

Marcos Costa começou sua carreira aos 16 anos, como assistente de cabeleireiro em Goiânia, onde nasceu. É o maquiador oficial da Natura, já trabalhou na Europa e Estados Unidos. Participa dos principais eventos e editoriais de moda do país, como o SPFW. Vários artistas passam ou já passaram por suas mãos, entre eles, Gisele Bundchen, Fábio Assunção, Ana Hickman, Letícia Sabatella e Toni Garrido, entre outros. Seu diferencial é valorizar a beleza para diferentes públicos, desde a mulher que domina o assunto até aquela que não tem tanta prática com os pincéis. Percursor de oficinas de maquiagem, cursos personalizados e consultoria de beleza para mulheres de todo o Brasil. Em 2006 lançou o livro “Eu amo maquiagem”, esgotado em apenas quatro semanas, onde são modelos negras que abrem e fecham a publicação, ocupando lugar de destaque que o autor acredita ser coerente com a incrível miscigenação racial que há no nosso país. Em 2013 lançou o livro “ Maquiagem” , com uma proposta de desafiar as mulheres à se inspirar e fazer algo que nunca fizeram.


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