sábado, 23 de maio de 2015

ARTE

Mostra com mais de cem obras de Joan Miró entra em cartaz em SP
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Menos delirante e mais realista do que se imagina, o Joan Miró que surge na retrospectiva dedicada a ele agora no Instituto Tomie Ohtake é um artista de pés firmes no chão, um autor que construiu uma obra arraigada na paisagem agreste da Catalunha e ao mesmo tempo em símbolos oníricos.

Na maior mostra do espanhol já realizada no país estão mais de cem obras de todas as fases de sua vida, sendo mais de 40 delas pinturas.
Em três salas do centro cultural paulistano, é possível observar a evolução da linguagem de Miró, um dos artistas mais influentes do século 20, morto aos 90, em 1993.
São trabalhos que vão desde os anos 1930, com o surgimento de seu vocabulário visual de personagens como o pássaro, o homem e a mulher, até as pinturas de gestual mais bruto e errático dos anos 1970, influenciadas pelo trabalho de expressionistas abstratos, como Jackson Pollock, que ele viu nos Estados Unidos.

"Miró sempre foi capaz de se aproximar do cosmos ao mesmo tempo em que olhava os aspectos mais primitivos do ser humano", diz Joan Punyet Miró, neto do artista. "Ele foi um criador visceral, que retratou o lado mais arcaico da experiência humana."

Nesse sentido, Miró buscou na experimentação com materiais uma forma de traduzir a tragédia das guerras que viveu e a violência da ditadura de Francisco Franco, que dominou a Espanha dos anos 1930 à década de 1970.

Em vez de pintar só sobre a tela convencional, o artista criou composições sobre chapas de madeira, lixas, trapos e até outras pinturas que comprava em mercados de pulgas.

Sua ideia era partir dos nós e veios da superfície da madeira ou das manchas e rasgos num papel para estruturar seus desenhos, usando o acaso como força motriz.

Ou seja, seus personagens quase abstratos e arquetípicos –a mulher como símbolo da fertilidade e o pássaro como ligação entre céu e terra– tinham raízes mais do que sólidas, inscritos na rugosidade da madeira e nos vincos do papel.

Mais perto da morte, Miró passou a cobrir suas telas de negro, com traços mais grossos e desajustados, manifestando sua consciência do fim.


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