Mostra com mais de cem obras de Joan Miró entra em cartaz em SP
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Menos delirante e mais realista do que se imagina,
o Joan Miró que surge na retrospectiva dedicada a ele agora no Instituto Tomie
Ohtake é um artista de pés firmes no chão, um autor que construiu uma obra
arraigada na paisagem agreste da Catalunha e ao mesmo tempo em símbolos
oníricos.
Na maior mostra do espanhol já realizada no país
estão mais de cem obras de todas as fases de sua vida, sendo mais de 40 delas
pinturas.
Em três salas do centro cultural paulistano, é
possível observar a evolução da linguagem de Miró, um dos artistas mais
influentes do século 20, morto aos 90, em 1993.
São trabalhos que vão desde os anos 1930, com o
surgimento de seu vocabulário visual de personagens como o pássaro, o homem e a
mulher, até as pinturas de gestual mais bruto e errático dos anos 1970,
influenciadas pelo trabalho de expressionistas abstratos, como Jackson Pollock,
que ele viu nos Estados Unidos.
"Miró sempre foi capaz de se aproximar do
cosmos ao mesmo tempo em que olhava os aspectos mais primitivos do ser
humano", diz Joan Punyet Miró, neto do artista. "Ele foi um criador
visceral, que retratou o lado mais arcaico da experiência humana."
Nesse sentido, Miró buscou na experimentação com
materiais uma forma de traduzir a tragédia das guerras que viveu e a violência
da ditadura de Francisco Franco, que dominou a Espanha dos anos 1930 à década
de 1970.
Em vez de pintar só sobre a tela convencional, o artista
criou composições sobre chapas de madeira, lixas, trapos e até outras pinturas
que comprava em mercados de pulgas.
Sua ideia era partir dos nós e veios da superfície
da madeira ou das manchas e rasgos num papel para estruturar seus desenhos,
usando o acaso como força motriz.
Ou seja, seus personagens quase abstratos e
arquetípicos –a mulher como símbolo da fertilidade e o pássaro como ligação
entre céu e terra– tinham raízes mais do que sólidas, inscritos na rugosidade
da madeira e nos vincos do papel.
Mais perto da morte, Miró passou a cobrir suas
telas de negro, com traços mais grossos e desajustados, manifestando sua
consciência do fim.
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