Preconceito contra nordestinos foi alimentado pela loucura de colunistas
Leonardo Sakamoto
28/10/2014 12:58
Tão deprimente quanto as manifestações violentamente preconceituosas
contra nordestinos após o resultado da eleição presidencial é identificar em
muitos dos tuítes e posts raivosos o DNA da intolerância de alguns colunistas e
jornalistas.
Não se enganem, colegas. Esses crimes virtuais cometidos por zumbis
incapazes de enxergar no outro um ser humano detentor do mesmo direito à
dignidade foram alimentados por argumentos construídos e divulgados, ao longo
do tempo, por pessoas que não se preocuparam com o resultado negativo de seus
discursos. Mas, autoproclamando-se arautos da decência, sabem que são norte
intelectual para muita gente.
Liberdade de expressão não é um direito fundamental absoluto. Não há
direitos fundamentais absolutos. Pois a partir do momento em que alguém abusa
de sua liberdade de expressão, indo além de expor a sua opinião, espalhando o
ódio e incitando à violência, isso pode trazer consequências mais graves à vida
de outras pessoas.
Como aqui já disse, liberdade de expressão não admite censura prévia. A
lei garante que as pessoas não sejam proibidas de dizer o que pensam. Mas
também afirma que elas são responsáveis pelo impacto causado pela divulgação de
suas opiniões.
Esconder-se atrás da justificativa da “liberdade de expressão'' para a
depreciação da dignidade humana é, portanto, a mais pura covardia.
Afinal, o exercício das liberdades pressupõe responsabilidade. Quem não
consegue conviver com isso, não deveria nem fazer parte do debate público,
recolhendo-se junto com sua raiva e ódio ao seu cantinho.
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