quinta-feira, 9 de julho de 2015

NO MEIO DO CAMINHO TINHA ARTE: PERFORMANCE

Com sexo explícito, performance pós-pornô na maior universidade da Argentina gera polêmica
Redação | São Paulo
Objetivo era ‘ampliar imaginário pornográfico e experimentar formas sexualizadas de habitar espaço universitário’; ministro de Educação criticou ação 

“O pós-pornô chega [às Ciências] Sociais, passeia pelos corredores da faculdade e vai sexualizando tudo ao redor”. A descrição em um cartaz pregado na faculdade de Ciências Sociais da UBA (Universidade de Buenos Aires) convidava para a performance realizada por um grupo de atores na noite desta quarta-feira (01/07), quando mulheres nuas e homens com aparatos “sadomasoquistas” de couro realizaram sexo explícito pelos corredores, sobre cartazes de partidos trotskistas e marxistas, gerando grande debate na sociedade argentina.

A ação artística foi realizada como parte da chamada “Quarta do Prazer”, realizada pela área de Comunicação, Gênero e Sexualidades da faculdade desde 2012, com o objetivo de “ampliar o imaginário pornográfico e experimentar outras formas sexualizadas de habitar o espaço universitário”. A hastag #fsoc se tornou um dos assuntos mais comentados do Twitter em todo o mundo.
Ao jornal La Nación, Carolina Justo von Lurzer, professora e uma das pesquisadoras da área explicou que “esta foi a primeira [atividade] de 2015 e aproveitamos que se realizou a Bienal de Performance da Argentina, da qual participaram destacados expoentes internacionais do movimento pós-pornô. Convidamos o coletivo espanhol PostOp para que fizessem sua mostra artística na faculdade; também deram cursos e finalmente, houve um debate aberto no estúdio de TV do subsolo”.

“Fizemos essa atividade nos corredores da faculdade porque quisemos romper o espaço público, tão politizado, para sexualizar um lugar carente dessas expressões. Por isso estava incluído o mobiliário na improvisação”, disse Laura Milano, da faculdade e autora do livro Usina Pós-Pornô, movimento artístico surgido nos Estados Unidos na década de 1980, com raízes nos movimentos feministas radicais e movimento punk.

Críticas
Entre os que criticaram a atividade está o ministro de Educação do país, Alberto Sileoni, que nesta quinta-feira (02/07) afirmou que a ação “não ajuda com o que se queria transmitir”.
O reitor da universidade, Alberto Barbieri, por sua vez, disse que não estava informado sobre sua realização da performance e que esse tipo de atividade “não pode ser realizado em um âmbito acadêmico, porque não é propício”. Ele ressaltou ainda que cobrará explicações dos responsáveis pela atividade.
Grupo explica trabalho durante bate-papo anterior à performance:
Em um comunicado, a faculdade informou que sancionará os responsáveis da área, que inclui pesquisadores, docentes e estudantes.
Pós-pornô
O pós-pornô nasceu como resposta ao pornô tradicional e com a intenção de gerar um espaço onde possa ser produzido um novo tipo de pornografia, com um olhar “feminista e subversivo”.
Esta não foi a primeira apresentação pós-pornográfica na Argentina. Veja o trecho de uma performance realizada no ano passado:

Uma das maiores referências do movimento é o blog criado em 2002 por Agueda Bañón e María Llopis, na Espanha, e que ficou no ar por cinco anos. A ideia era veicular pornografia alternativa e ali publicaram um manifesto no qual falavam sobre a necessidade de “explodir os espartilhos apertados” que prendem as identidades sexuais e as fantasias eróticas, como explica Paul B. Preciado, autor do livro Testo Yonki y el Manifiesto contrasexual, em declarações ao jornal La Vanguardia.
Milano, em seu livro Usina Pós-Pornô, explica, por sua vez, que “basta ver um filme pornô para encontrar aqueles recursos que sempre são repetidos em todos os demais filmes do gênero: o sexo é penetração, ejaculação, orgasmo. Sempre o mesmo relato com o mesmo ‘happy ending’. Esta fórmula responde a uma concepção da sexualidade heteronormativa [onde o ‘normal’ é ser hétero] e coitocentrada [onde o sexo é o coito e os genitais são as únicas zonas erógenas do corpo]. Diante disso, a pós-pornografia propõe uma completa desconstrução de gênero: as dicotomias de masculinidade/ feminilidade, homem/ mulher, penetrador/ penetrado, ativo/ passivo são assumidas como construções ou tecnologias; quer dizer, como possibilidades e não como essências”.





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