Com sexo explícito,
performance pós-pornô na maior universidade da Argentina gera polêmica
Redação |
São Paulo
Objetivo era ‘ampliar imaginário pornográfico e
experimentar formas sexualizadas de habitar espaço universitário’; ministro de
Educação criticou ação
“O pós-pornô chega [às Ciências] Sociais, passeia
pelos corredores da faculdade e vai sexualizando tudo ao redor”. A descrição em
um cartaz pregado na faculdade de Ciências Sociais da UBA (Universidade de
Buenos Aires) convidava para a performance realizada por um grupo de atores na
noite desta quarta-feira (01/07), quando mulheres nuas e homens com aparatos
“sadomasoquistas” de couro realizaram sexo explícito pelos corredores, sobre
cartazes de partidos trotskistas e marxistas, gerando grande debate na
sociedade argentina.
A ação artística foi realizada como parte da
chamada “Quarta do Prazer”, realizada pela área de Comunicação, Gênero e
Sexualidades da faculdade desde 2012, com o objetivo de “ampliar o imaginário
pornográfico e experimentar outras formas sexualizadas de habitar o espaço
universitário”. A hastag #fsoc se tornou um dos assuntos mais comentados do
Twitter em todo o mundo.
Ao jornal La Nación, Carolina Justo von
Lurzer, professora e uma das pesquisadoras da área explicou que “esta foi a
primeira [atividade] de 2015 e aproveitamos que se realizou a Bienal de
Performance da Argentina, da qual participaram destacados expoentes
internacionais do movimento pós-pornô. Convidamos o coletivo espanhol PostOp
para que fizessem sua mostra artística na faculdade; também deram cursos e
finalmente, houve um debate aberto no estúdio de TV do subsolo”.
“Fizemos essa atividade nos corredores da faculdade
porque quisemos romper o espaço público, tão politizado, para sexualizar um
lugar carente dessas expressões. Por isso estava incluído o mobiliário na
improvisação”, disse Laura Milano, da faculdade e autora do livro Usina
Pós-Pornô, movimento artístico surgido nos Estados Unidos na década de 1980,
com raízes nos movimentos feministas radicais e movimento punk.
Críticas
Entre os que criticaram a atividade está o ministro
de Educação do país, Alberto Sileoni, que nesta quinta-feira (02/07) afirmou
que a ação “não ajuda com o que se queria transmitir”.
O reitor da universidade, Alberto Barbieri, por sua
vez, disse que não estava informado sobre sua realização da performance e que
esse tipo de atividade “não pode ser realizado em um âmbito acadêmico, porque
não é propício”. Ele ressaltou ainda que cobrará explicações dos responsáveis
pela atividade.
Grupo explica trabalho durante
bate-papo anterior à performance:
Em um comunicado, a faculdade informou que sancionará os responsáveis da área, que inclui pesquisadores, docentes e estudantes.
Em um comunicado, a faculdade informou que sancionará os responsáveis da área, que inclui pesquisadores, docentes e estudantes.
Pós-pornô
O pós-pornô nasceu como resposta ao pornô
tradicional e com a intenção de gerar um espaço onde possa ser produzido um
novo tipo de pornografia, com um olhar “feminista e subversivo”.
Esta não foi a primeira apresentação
pós-pornográfica na Argentina. Veja o trecho de uma performance realizada no
ano passado:
Uma das maiores referências do movimento é o blog
criado em 2002 por Agueda Bañón e María Llopis, na Espanha, e que ficou no ar
por cinco anos. A ideia era veicular pornografia alternativa e ali publicaram
um manifesto no qual falavam sobre a necessidade de “explodir os espartilhos
apertados” que prendem as identidades sexuais e as fantasias eróticas, como
explica Paul B. Preciado, autor do livro Testo Yonki y el Manifiesto
contrasexual, em declarações ao jornal La Vanguardia.
Milano, em seu livro Usina Pós-Pornô, explica, por
sua vez, que “basta ver um filme pornô para encontrar aqueles recursos que
sempre são repetidos em todos os demais filmes do gênero: o sexo é penetração,
ejaculação, orgasmo. Sempre o mesmo relato com o mesmo ‘happy ending’. Esta
fórmula responde a uma concepção da sexualidade heteronormativa [onde o
‘normal’ é ser hétero] e coitocentrada [onde o sexo é o coito e os genitais são
as únicas zonas erógenas do corpo]. Diante disso, a pós-pornografia propõe uma
completa desconstrução de gênero: as dicotomias de masculinidade/ feminilidade,
homem/ mulher, penetrador/ penetrado, ativo/ passivo são assumidas como
construções ou tecnologias; quer dizer, como possibilidades e não como
essências”.
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