Professor
brasileiro é um dos que mais trabalham, afirma relatório da OCDE
Por Davi Lira - iG São Paulo | 25/06/2014 06:00
No Brasil, docente gasta 25 horas por semana só dando aulas, um
porcentual 24% maior do que outros 30 países analisados
José Luis da Conceição/Divulgação SEE
Pesquisa foi feita com mais de 14 mil
professores brasileiros; docentes usam apenas 67% do tempo da aula; o resto é
"desperdiçado" com atividades administrativas e no controle da
"bagunça"
Os professores brasileiros de
escolas de ensino fundamental, gastam, em média, 25 horas por semana só com as
aulas. O número é superior à média de aproximadamente 30 países, como a
Finlândia, Coreia, Estados Unidos, México e Cingapura. Lá, os professores
gastam, em média, 19 horas por semana ensinando em sala de aula, ou seja, um
porcentual 24% menor. O posição brasileira é inferior apenas à do Chile,
onde os professores gastam quase 27 horas em aulas.
No Brasil, salário de professor é metade do que recebem outros profissionais
1 em cada 4 professores de escolas públicas brasileiras é temporário, diz Ipea
No Brasil, salário de professor é metade do que recebem outros profissionais
1 em cada 4 professores de escolas públicas brasileiras é temporário, diz Ipea
O docente brasileiro, contudo,
usa até 22% mais de tempo que a média dos demais países em outras atividades da
profissão, como correção de "tarefas de casa", aconselhamento e
orientação de alunos. Todos os dados são da mais recente Pesquisa Internacional
sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) divulgada nesta quarta-feira (25) na
França.
Junto com o Brasil, não foram
apenas países ricos e integrantes da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) - coordenadora da pesquisa - que participaram
do estudo. Outras nações emergentes e também países menos desenvolvidos fizeram
parte da pesquisa. Polônia, Bulgária, Croácia, Malásia e Romênia fazem parte do
conjunto de nações integrantes da edição 2013 da Talis.
Os dados foram obtidos junto a
mais de 14 mil professores brasileiros e cerca de 1 mil diretores de 1070
escolas públicas e privadas de todos os estados do País. Os docentes e
dirigentes responderam aos questionários da pesquisa, de forma sigilosa, entre
os meses de setembro a novembro de 2012. Cada questionário tinha cerca de 40
perguntas.
Em âmbito nacional, o estudo foi
coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep),
vinculado ao Ministério da Educação (MEC). Em 2007, o Brasil também
participou da primeira rodada da pesquisa, a Talis 2008, que foi publicada no
ano seguinte.
Objetivo
A pesquisa tem como principal
objetivo analisar as condições de trabalho que as escolas oferecem para os
professores e o ambiente de aprendizagem nas salas de aula.
De acordo com o Inep,
"a comparação e análise de dados internacionais permite que os países
participantes identifiquem desafios e aprendam a partir de políticas públicas
adotadas fora de suas fronteiras".
Diferente do Programa
Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), que prioriza a avaliação dos
alunos, do seu contexto e da escola, no Talis, o foco está mais centrado
nos docentes. "O programa Talis é um programa de pesquisas que visa
preencher lacunas de informação importantes para a comparação internacional dos
sistemas de ensino", afirma estudo da Universidade Federal do Paraná
liderado pela pesquisadora Rose Meri Trojan.
"Desperdício"
A pesquisa também quis saber do professor quanto tempo de aula é voltado, efetivamente, para a aprendizagem. E o número é pouco animador para o Brasil. Mesmo com uma carga de 25 horas de aulas por semana, mais de 30% do tempo desses encontros regulares é "desperdiçado" em tarefas de manutenção da ordem dentro da sala e em questões burocráticas, como o preenchimento de chamadas e outras atividades administrativas.
A pesquisa também quis saber do professor quanto tempo de aula é voltado, efetivamente, para a aprendizagem. E o número é pouco animador para o Brasil. Mesmo com uma carga de 25 horas de aulas por semana, mais de 30% do tempo desses encontros regulares é "desperdiçado" em tarefas de manutenção da ordem dentro da sala e em questões burocráticas, como o preenchimento de chamadas e outras atividades administrativas.
Só o tempo gasto para por
"ordem na bagunça" dos estudantes representa 20% do tempo total da
aula. Com serviços administrativos, são gastos 12%. De aula mesmo, ou seja,
atividades de aprendizagem, o professor dispõe apenas de 67% do tempo. É a pior
situação entre todos os países avaliados. Na média dos países pesquisados,
quase 80% do tempo é voltado, exclusivamente, para a aprendizagem.
Reprodução/TV Univesp
Ocimar Alavarse, da USP, diz que é
preciso mudar o foco do ensino para a aprendizagem
"Precisamos otimizar mais o
tempo em sala de aula. O Brasil ainda tem como foco o ensino, mas é preciso se
voltar para a aprendizagem. Não podemos desperdiçar tanto tempo com outras
questões", afirma Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade
de São Paulo (USP).
Segundo ele, um dos principais
fatores de dispersão do aluno é a própria defasagem que ele tem em termos
de conhecimento por uma série de fatores, inclusive os socioeconômicos.
"Os alunos que chegam no fundamental veem com baixa proficiência ou
possuem uma diferença muito grande em relação aos demais estudantes. Isso é um
dos fatores que faz com que ele não fique atento às aulas e o professor precise
gastar mais tempo organizando a dispersão", fala Alavarse.
Deslocamento
Além de usar mais horas por
semana ensinando, parte dos professores brasileiros ainda sofre com o desgaste
em descolamentos. Isso porque, muitos deles trabalham em mais de um
estabelecimento.
Thinkstock/Getty Images
Dupla jornada em escolas diferentes representa
mais trabalho e causa estresse no professor
"Ainda temos que enfrentar o
desafio da reorganização do corpo de professores nas escolas públicas. O ideal
era que ele estivesse vinculado a apenas uma escola. No entanto, é comum
docentes, especialmente dos anos finais do ensino fundamental, ensinarem em
mais de um estabelecimento, já que certas matérias que eles lecionam têm uma
carga horária e número de turmas limitado", afirma Daniel Cara,
coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
No Brasil, cerca de 40% dos mais
de 2 milhões de professores da educação básica dão aulas em cinco ou mais
turmas. E aproximadamente 20% deles ensinam em pelo menos dois
estabelecimentos. Já em São Paulo, 26% dos professores dão aulas em duas
escolas. Os dados são do Censo Escolar 2013 divulgados no início deste ano pelo
MEC.
Perfil
Além dos dados sobre condições de
trabalho e ambiente de aprendizagem, a pesquisa da OCDE também traçou o perfil
do docente brasileiro. Confira: