sábado, 9 de novembro de 2013
POR QUE ESSE TEMPO TODO?
Mais de mil obras são recuperadas
Publicação: 09 de Novembro de 2013 às 00:00
Fonte tribuna do norte
Maria Hirszman - Especial para a AE
Impossível não se surpreender com a notícia, divulgada no último fim de semana, sobre o impressionante achado de 1.406 obras de arte num apartamento em um bairro nobre na cidade alemã de Munique. Tinham sido ocultadas na penumbra e disfarçadas por uma barreira de comidas enlatadas, muitas delas vencidas desde os anos 1980, por Cornelius Gurlitt, filho do marchand Hildebrand Gurlitt (1895-1956).
Antes de tudo é preciso sublinhar - e comemorar - o fato de obras dessa qualidade e dimensão histórica terem sobrevivido em tão boas condições até nossos dias. No entanto, junto à boa notícia, surgem inúmeros questionamentos. As surpresas se sobrepõem em cascatas: a quantidade e a qualidade de obras (seu valor é estimado em 1 bilhão) é impressionante; o lote está intimamente ligado à terrível história de censura e espoliação perpetradas pelo regime nazista; e é chocante imaginar que tal tesouro tenha permanecido invisível das autoridades por tanto tempo, tendo sido descoberto de forma quase fortuita.
Divulgação
Pintua de Max Beckmann, um dos artistas considerados degenerados pelos nazistasPintua de Max Beckmann, um dos artistas considerados degenerados pelos nazistas
Para começar a vislumbrar as implicações dessa descoberta e seus desdobramentos, é preciso traçar um pequeno resumo cronológico, que se inicia nos anos 1930 do século passado, quando Hitler sobe ao poder.
Dentre as inúmeras vítimas do regime, inclui-se a arte moderna, com especial desprezo pela arte expressionista, considerada portadora de valores antialemães e vinculadas ao judaísmo e bolchevismo. Em 1937, é realizada a exposição de Arte Degenerada em Munique, com centenas de obras vilipendiadas. Muitos trabalhos foram queimados, outros tantos negociados para ajudar a financiar o regime e muitos constam simplesmente como “desaparecidos”.
Outro efeito do espraiamento do nazismo pela Europa foi o confisco de coleções inteiras pertencentes a judeus ou sua venda por preços irrisórios pelos refugiados. Calcula-se que 21 mil obras tenham sido confiscadas, destruídas ou negociadas por eles
O marchand Hildebrand Gurlitt desempenha um papel curioso nesse cenário. Neto de uma judia, tinha tudo para ser perseguido, mas acaba convocado por Goebbels para ajudar nesse processo de confisco e negociação das obras ditas degeneradas no exterior. Após o fim da Guerra, Gurlitt consegue se livrar das acusações que pesavam contra ele e consegue se restabelecer, alegando que sua coleção havia sido queimada durante o bombardeio a Dresden, em 1945.
Manteve-se ativo como galerista até morrer num acidente de avião, em 1956, e há inclusive cartas dele no acervo de Lasar Segall. Chegou a ter 139 obras confiscadas pelo exército americano de ocupação, que lhe foram devolvidas. Algumas estavam entre aquelas guardadas por seu filho no apartamento de Munique, e que foram descobertas no ano passado depois que uma investigação de rotina suspeitou de Cornelius Gurlitt quando este retornava da Suíça em 2010. Este senhor, então com 78 anos, não possuía documento de contribuinte nem registro. Era “um homem que não existia”.
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