sábado, 19 de setembro de 2015

FORA DO EIXO: QUEM DIRIA OAB!

Gilmar Mendes abandonar o plenário foi 'grotesco e autoritário', afirma OAB.
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) fez duras críticas nesta quinta-feira (17) ao ministro do STF (Supremo Tribunal de Federal) Gilmar Mendes "repudiando ataques grosseiros e gratuitos, desprovidos de qualquer prova, evidencia ou base factual" contra a entidade durante seu voto contra a proibição de financiamento privado de campanhas.
Em nota assinada pelo Colégio de Presidentes de Conselhos Seccionais da OAB, a entidade afirmou ainda que "não mais é tolerável o tempo do poder absoluto dos juízes" e que a "voz altiva da advocacia brasileira, que nunca se calou, não será sequer tisnada pela ação de um magistrado que não se fez digno de seu ofício.
O mal-estar começou na sessão desta quarta (16) do STF, quando o ministroafirmou que o PT conseguiu manobrar a OAB, autora da ação que questiona a legalidade das doações privadas para candidatos e partidos, para defender a restrição dos repasses e com isso asfixiar a alternância de poder, decretando a falência da oposição.
Ao final do julgamento, Gilmar Mendes chegou a se desentender com o presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, que concedeu a palavra a um representante da OAB para rebater o voto do ministro.
Gilmar Mendes acabou abandonando o plenário, antes de o advogado se manifestar.
"O ato de abandono do plenário, por grotesco e deselegante, esse se revelou mais um espasmo autoritário de juízes que simbolizam um Poder Judiciário desconectado da democracia, perfil que nossa população, definitivamente, não tolera mais", diz outro trecho da nota da OAB.
"Não mais é tolerável o tempo do poder absoluto dos juízes. Não mais é aceitável a postura intolerante, símbolo de um Judiciário arcaico, que os ventos da democracia varreram. Os tempos são outros e a voz altiva da advocacia brasileira, que nunca se calou, não será sequer tisnada pela ação de um magistrado que não se fez digno de seu ofício", completou.
O STF retoma na tarde desta quinta o julgamento. Dos 11 ministros, seis votaram pela proibição de doações privadas para candidatos e partidos e outros dois pela liberação desse tipo de repasse. Ainda precisam apresentar seus votos os ministros Rosa Weber, Cármen Lúcia e Celso de Mello.
PT
O comando do PT também divulgou nota em resposta ao ministro do STF Gilmar Mendes nesta quinta.
No texto, o partido afirma que estuda o teor do voto do magistrado para ingressar na Justiça.
"Em 2014, o PT interpelou judicialmente o ministro Gilmar Mendes a propósito de declarações caluniosas desferidas contra o partido. Aguardamos apenas a transcrição da sessão de ontem para avaliar novas ações contra o referido ministro", diz a nota.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a telefonar para o presidente do partido, Rui Falcão, para cobrar uma resposta da legenda ao magistrado. No telefonema, Falcão informou ter reagido em entrevistas. Ele também informou Lula sobre a nota divulgada.
Folha apurou que o telefonema foi de fato feito por Dilma –que estava ao lado de Lula na hora– mas que quem conversou com Falcão foi o ex-presidente. No momento, Falcão estava concedendo entrevista e pediu licença para atender à chamada da presidente numa sala anexa.
Quando voltou, afirmou que havia se confundido e que, na verdade, acabara de falar com Lula.
Outro a criticar a atitude de Mendes foi o secretário de Articulação da gestão Fernando Haddad à frente da Prefeitura de São Paulo, José Américo. Para ele, o magistrado se 'desqualificou' com as insinuações.
"Gilmar mendes se desqualificou. Ele está inconformado, para não dizer despeitado, porque percebeu no STF a questão da doação privada", afirmou Américo –que também é secretário nacional de comunicação do PT– em frente à sede do partido nesta quinta.
-
CONFIRA A ÍNTEGRA DA NOTA DA OAB:
O Colégio de Presidentes de Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil vem lamentar a postura grosseira, arbitrária e incorreta do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, quando abandonou o plenário diante de esclarecimento prestado, de forma legitima, educada e cortês, pelo advogado e dirigente da Ordem dos Advogados Cláudio Pereira de Souza Neto que, naquele momento e naquele julgamento, representava a voz da advocacia brasileira.
Repudia o Colégio de Presidentes os ataques grosseiros e gratuitos, desprovidos de qualquer prova, evidencia ou base factual, que o ministro Gilmar Mendes fez à Ordem dos Advogados em seu voto sobre o investimento empresarial em campanhas eleitorais, voto vista levado ao plenário somente um ano e meio depois do pedido de maior tempo para análise.
Ressalta o Colégio de Presidentes que comportamento como o adotado pelo ministro Mendes é incompatível com o que se exige de um Magistrado, fere a lei orgânica da magistratura e está na contramão dos tempos de liberdade e transparência. Não mais é tolerável o tempo do poder absoluto dos juízes. Não mais é aceitável a postura intolerante, símbolo de um Judiciário arcaico, que os ventos da democracia varreram.
Os tempos são outros e a voz altiva da advocacia brasileira, que nunca se calou, não será sequer tisnada pela ação de um magistrado que não se fez digno de seu ofício.
Enfatizamos que o ato de desrespeito às prerrogativas profissionais do advogado foi também um ato de agressão à cidadania brasileira e merece a mais dura e veemente condenação. O ato de abandono do plenário, por grotesco e deselegante, esse se revelou mais um espasmo autoritário de juízes que simbolizam um Poder Judiciário desconectado da democracia, perfil que nossa população, definitivamente, não tolera mais. 


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

ARTE BRASILEIRA

Após 5 anos, painéis 'Guerra e Paz', de Portinari, são reinaugurados na sede da ONU em NY
Patrícia Dichtchekenian | Nova York - 09/09/2015 - 15h00
'Sou profundamente grato a Portinari', declarou Ban Ki-moon; Já Antonio Patriota ressaltou que Brasil 'se sente muito bem representado por essa obra'

Nos últimos cinco anos, os painéis “Guerra e Paz”, do pintor brasileiro Cândido Portinari (1903-1962), passaram por um processo de renovação e por um tour inédito pelo Brasil e pela França. A poucas semanas do aniversário de 70 anos da ONU (Organização das Nações Unidas), os murais foram reinaugurados na sede da entidade na noite de terça-feira (08/09) em Nova York, em evento com a presença do secretário-geral, Ban Ki-moon.
“Eu sou profundamente grato a Portinari”, declarou Ban na cerimônia, que ocorreu no salão nobre da sede, local que recepciona anualmente a Assembleia Geral da ONU.

Em discurso, o secretário-geral recordou que os imponentes murais de 14 metros de altura e 10 de largura foram os dois últimos trabalhos do artista antes de morrer. “Ele literalmente deu sua vida por essa obra de arte”, afirmou. “Portinari e seu legado viverão para sempre nas Nações Unidas”, acrescentou, pedindo, em seguida, um minuto de silêncio ao pintor.
Elaborados entre 1952 e 1956, os dois murais de “Guerra e Paz” foram um presente do governo brasileiro à sede da ONU em Nova York. Entretanto, como lembrou na cerimônia o filho de Portinari, João Cândido, o pintor não conseguiu visitar os EUA à época da inauguração por “motivos políticos”.

Opera Mundi, o embaixador Antonio Patriota, representante permanente do Brasil na ONU e ex-ministro das Relações Exteriores (2011-2013), declarou que a reinauguração da obra, no contexto das vésperas do aniversário de 70 anos da entidade,  é vista como uma “alegria para os diplomatas brasileiros”.
“É uma obra que simboliza a missão central das Nações Unidas, que é a promoção da paz, ou em outro ângulo, o combate à violência para evitar a guerra”, afirmou. “O Brasil, como membro fundador das Nações Unidas e como país que se identifica com essa visão de paz e com o compromisso contra a violência, o militarismo e o uso da forca nas relações internacionais, se sente muito bem representado por essa obra”, completou.
Durante mais de meio século, os dois murais que compõem “Guerra e Paz” nunca haviam deixado a sede nova-iorquina. Apenas em 2010, quando o edifício entrou em reforma, as duas obras retornaram ao Brasil, onde passou por um processo de restauração. Entre 2011 e 2014, foram exibidas no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Belo Horizonte e em Paris, retornando ao prédio da ONU em dezembro passado, mas os painéis permaneceram cobertos desde então.
Espetáculo
Com pouco mais de uma hora de duração, o evento contou com um espetáculo dirigido pela cineasta brasileira Bia Lessa, chamado de “A Segunda Revelação” (“The Second Unveiling”). A apresentação multimídia foi dividida em 12 capítulos que exploravam a necessidade de paz, uma das principais mensagens da obra de Portinari.

Durante a cerimônia, Lessa leu um comunicado enviado pelo papa Francisco para a ocasião, em que o pontífice argentino ressalta o valor da solidariedade face ao individualismo generalizado, bem como a importância da fidelidade do edifício das Nações Unidas em Nova York ao propósito da entidade.
  
Durante o espetáculo, o salão virou palco de projeções, com citações de poemas e de frases de diversos autores, brasileiros e estrangeiros, desde Vinícius de Moraes e Haroldo de Campos até Walt Whitman, Gertrude Stein e Eduardo Galeano.

Em um dos momentos da apresentação, dedicado à crítica ao consumismo como um novo conceito de guerra, por exemplo, notas falsas de dólares, euros e reais caíram do teto e surpreenderam a plateia. Segundo funcionários da ONU que participaram do evento, a cerimônia chamou atenção por não ser recorrente no local.
A lista de confirmados para o evento chegou a 1.200 pessoas. Era esperado que a maioria dos participantes fosse brasileira, mas a lista constava com cerca de 700 estrangeiros – uma surpresa, segundo a organização.

De acordo com Rafael Beleboni, da Missão do Brasil na ONU, a produção do espetáculo durou ao menos um ano e meio e fez parte de um esforço para que houvesse a possibilidade de que mais pessoas conhecessem as obras de Portinari na sede nova-iorquina.
Embora o acesso aos dois murais seja restrito a delegados e funcionários das Nações Unidas por questões de segurança, a Missão tenta medidas para que os murais de “Guerra e Paz” sejam abertos à visitação do público.